Poetas morrem e de repente a
gente se dá conta de que suas vozes fazem parte do nosso corpo, da nossa
história, mais do que sempre pensamos... suas vozes ficam...
E só o grito para segurar a barra pesada que é a vida para
todos... Grito que esconde tanta
dor...
E o primeiro semestre de
2017 será lembrado pela perda de três vozes do mundo da música, do rock, que
fizeram e marcaram a ferro o corpo de gerações com suas canções, poesias, seus
gritos pesados de “alegria e dor, fúria e perdão, amor e coração partido”: Belchior
(†30 abril 2017), Chris Cornell (†18 maio 2017), Chester Bennington (†20 julho
2017).
Vozes que por trás de seus
gritos guardam uma doçura que não era para o mundo do imediato, mas para o
mundo do para sempre no corpo de alguém.
Voz é corpo, música é
corpo, palavra é ferida do corpo e só o corpo a corpo para provar essa doçura.
Fiquemos, então, com as
cartas das filhas de Chris Cornell para o pai, uma carta de Chester Bennington
para o amigo Cornell e um relato-carta de Josely Teixeira Carlos em homenagem a
Belchior. E com elas ficam também Prince, Beatles e outros tantos...
Bruno
D’Abruzzo
[editor
Tipografia Musical]
***
“Daddy,
Deixe-me começar dizendo o quanto eu amo você e o quanto você importa para mim. Você é meu ídolo, alguém com quem eu sempre pude contar.
Você sempre esteve lá para mim. Você me incentivou todos os dias, e você ainda
faz isso.
Sempre que choro ou sinto que não há como continuar, ouço
sua voz: ‘Não fique preocupada, Peanut. A preocupação é uma perda de tempo,
estou bem.’
Eu sempre acreditei no que você dizia do fundo do meu
coração. Provavelmente, porque tudo o que você disse era tão inteligente.
Toda vez que você chegou em casa após uma turnê, você passou
todas suas horas com a gente. Não importa o quão cansado você estivesse,
quantos fusos horários você tivesse viajado, você estava lá para nós.
Sempre que estava doente, você cuidava de mim. Você me
abraçava, me beijava. Você não se preocupou em ficar doente. Você teria ficado
acordado a noite toda para ter certeza de que minha febre tinha diminuído. E se
não tivesse, você me acordaria e me daria o meu remédio. Eu abriria meus olhos,
te veria e me sentiria melhor.
Eu tenho tantas lembranças com você, mas uma das minhas favoritas
foi no início deste ano quando eu estava com jet lag e assistimos ‘Purple
Rain’. Nós estávamos no BHH e você entrou no meu quarto quando eu estava
tentando encontrar um filme para assistir.
‘Que tal Purple Rain?’, você disse. Eu sempre confiei na sua
opinião. Coloquei e imediatamente me apaixonei! Em seguida, chegamos à sua
música favorita, ‘The Beautiful Ones’.
‘Esta música é tão especial que nem sequer pertence a um
gênero. Quando eu tinha vinte e poucos anos, eu a ouvi no cinema e um cara
começou a morrer de rir dessa cena e da música. Ele ficou realmente louco’,
você disse.
Eu também me apaixonei pela música e fiquei ouvindo no
repeat.
Nossa conexão especial foi sempre pelas artes. Poemas,
livros, música, escrita. Ambos temos um amor incondicional por isso.
Quem vai me apresentar para filmes como ‘Purple Rain’ e
músicas como ‘The Beautiful Ones’ agora? Estou esperando que encontre algo,
porque você me treinou tão bem.
Eu sei que você ainda está aqui, e o calor que sinto sob o
frio, é você.
VOCÊ É O MELHOR PAI EM TODO O MUNDO. E eu sei que, se não
fosse um acidente, você ainda estaria abraçado comigo assistindo ‘Purple
Rain’.
Eu amo você e sinto sua falta, papai. Você merece seu
próprio dia para ser comemorado porque você é o melhor pai que qualquer um
poderia ter. Feliz dia dos pais!
Com amor,
Seu bebê Toni”
***
“Papa,
Uns verões atrás, quando andávamos de bicicleta pelo Central
Park, você me disse que não existiam muitas pessoas realmente boas no mundo,
mas que eu era uma das poucas. Você sempre tinha tanta confiança e orgulho no
que eu fazia, e seu calor e amor me inspiraram a fazer o meu melhor. Agora, mais
do que nunca, eu quero viver minha vida para ajudar os outros, como você fez.
Eu quero fazer com que você continue tendo orgulho de mim. Toni, C e eu
prometemos sobreviver e perseverar e prosperar, como sempre fizemos. Estou tão
orgulhosa de ser seu bebê, eu amo você mais do que as palavras podem dizer e
sentirei sua falta para sempre.
Sua joaninha,
Lily”
***
“Sonhei
com os Beatles ontem à noite. Acordei com ‘Rocky Raccoon’ tocando em minha
cabeça e um olhar preocupante no semblante da minha esposa. Ela me disse que
meu amigo havia acabado de falecer. Lembranças sobre você inundaram a minha
cabeça e eu chorei. Ainda estou chorando, de tristeza e de gratidão por ter
compartilhado alguns momentos especiais com você e sua linda família. Você me
inspirou tantas vezes de várias maneiras que você não consegue imaginar.
Seu
talento era puro e incomparável. Sua voz foi alegria e dor, fúria e perdão,
amor e coração partido tudo em uma só. Eu acho que todos nós somos assim. Você
me ajudou a entender isso. Acabei de assistir a um vídeo de você cantando ‘A
Day in the Life’ dos Beatles e me lembrei do meu sonho. Quero pensar que era
você se despedindo da sua maneira. Não posso pensar em um mundo sem você nele.
Rezo para que você encontre paz na próxima vida. Envio meu amor para sua esposa
e filhos, amigos e família. Obrigado por me permitir ser parte da sua vida.
Com
todo o meu amor,
Seu
amigo,
Chester
Bennington”
***
Aulas de Latim
com o professor Belchior, por Josely Teixeira Carlos:
***
Fontes:
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