Cinema são encontros. Encontros para além de uma
sessão. Encontros que podem durar uma vida toda, e com todas as relações
perigosas que lhes são intrínsecas.
E Um corpo que cai (Vertigo), de Alfred Hitchcock, vem proporcionando encontros desde
que lançado em 1958. Encontros que já despertaram paixão e repulsa imediatas e
tardias. E é sobre seus encontros com este filme, atravessados por outros de
outras pessoas, que Mário Alves Coutinho fala neste livro.
Eleito em 2012 o
melhor filme de todos os tempos pela Sight & Sound, Um corpo que cai recebe aqui uma leitura concisa e cerrada pelos
olhos apurados de quem se encontrou (e ainda se encontra) por toda sua vida com
esta obra-prima cinematográfica. Um olhar que só assim permite novos olhares
interpretativos, mirando, por exemplo, o “fazer cinema” e o feminino que dela
transbordam.
Bruno D'Abruzzo, editor da Tipografia Musical
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Este livro trata não apenas de um importante filme de Alfred
Hitchcock, mas de um dos mais poderosos enigmas do cinema, com uma legião
crescente de admiradores, intérpretes e decifradores.
A própria história da
recepção crítica de Um corpo que cai
(Vertigo) é intrigante. Desde sua
estreia em 1958, foi pouco a pouco deixando de ser visto como um extravagante
melodrama gótico-policial do diretor inglês e se tornou, aos olhos dos
críticos, uma das mais extraordinárias criações cinematográficas de todos os
tempos.
A consagração atingiu
seu auge em 2012, quando uma enquete internacional feita pela influente revista
Sight & Sound o elegeu o melhor
filme da história, levando-o a desbancar Cidadão
Kane, que há décadas ocupava o primeiro lugar na lista da publicação e de
outras similares.
Um corpo que cai, Alfred Hitchcock ou o perverso e o
sublime,
de Mário Alves Coutinho, é a melhor porta de entrada que os brasileiros
poderiam ter a essa obra-prima.
Com sensibilidade e
inteligência, o autor – que é crítico de cinema e ensaísta, além de tradutor de
William Blake e D.H. Lawrence – conduz os leitores, sequência após sequência,
pelos caminhos labirínticos de Vertigo,
revelando paulatinamente toda a sua riqueza estética, narrativa e temática.
A abundância de
questões suscitadas pelo filme transborda para além do cinema, resvalando sobre
tópicos centrais da psicanálise, da filosofia, da literatura, da teoria dos
gêneros e do estudo dos mitos.
O autor caminha por
todos esses terrenos com segurança, leveza e ritmo, evocando um portentoso
elenco de pensadores, de Freud a Derrida, de Bazin a Žižek, que são como guias no trajeto. O ensaio
jamais se fecha em uma interpretação, multiplicando as leituras e convidando o
leitor a se tornar, ele próprio, um participante ativo da decriptação do filme.
Coutinho faz tudo
isso sem nunca esquecer a matéria principal: a própria linguagem
cinematográfica e o seu impacto no imaginário, na sensibilidade e na
inteligência. Cinéfilo culto e curioso, ele deseja tanto decifrar os segredos
de sua paixão por um filme, compartilhada por inúmeros espectadores, como
entender a própria potência do cinema, que pelas mãos de Hitchcock, em Um corpo que cai, alcançou uma força
máxima de expressão.
Alcino Leite Neto é crítico
de cinema, jornalista e editor
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