sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Aforismos de Mozart: ainda suas cartas

Aforismos de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791)

Seleção e tradução de Mário Alves Coutinho  


... sei o meu dever... (1769, carta à mãe)
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(...) a vontade de Deus é sempre a melhor e Deus sabe mais do que nós, sem dúvida, se é preferível estar neste mundo ou no outro. (1770, carta à mãe)
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Acima de nós mora um violinista, abaixo, um outro, próximo vive um professor de canto que dá lições, e no último quarto, a nossa frente, está alguém que toca oboé. Isso é delicioso para um compositor: são muitas as ideias que uma situação como essa proporciona. (1771, carta à irmã)
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Quando tentou harmonias, ele produziu somente dissonâncias, pois estava desafinado. (1777, carta ao pai)
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Eles certamente pensam que devido ao fato de eu ser pequeno e jovem não pode existir nada grande ou venerável dentro de mim, mas em breve eles verão! (1777, carta ao pai)
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Não sou descuidado, estou apenas preparado para tudo e, portanto, posso esperar os acontecimentos com paciência – e posso resistir a qualquer coisa (...). (1777, carta ao pai)
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(...) a felicidade mantém-se somente na imaginação. (1777, carta ao pai)
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Amigos que não têm religião não podem durar. (1778, carta ao pai)
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Posso muito facilmente assimilar e imitar qualquer tipo e estilo de composição. (1778, carta ao pai)
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Não ouso e não posso enterrar, ensinando música, o talento que o bom Deus tão fartamente concedeu a mim – posso dizer isso sem orgulho, pois sinto isso agora mais do que nunca (...). (1778, carta ao pai)
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Sou um compositor, nascido para ser um regente de orquestra. (1778, carta ao pai)
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Depois de Deus vem meu papai – esse sempre foi o meu lema, o axioma da minha infância, e ainda obedeço-o agora! (1778, carta ao pai)
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Aprender é poder. (1778, carta ao pai)
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Dê-me o melhor teclado da Europa, com uma audiência que não entende nada, que não deseje entender nada e não sinta junto comigo o que estou tocando: não terei nenhuma alegria nisso! (1778, carta ao pai)
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(...) esqueci o frio e a dor de cabeça e a despeito de tudo toquei o teclado como, exatamente como toco o teclado quando estou com disposição para a coisa! (1778, carta ao pai)
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É muito difícil, no momento, encontrar poemas adequados à ópera. Os poemas mais antigos, ainda que eles sejam os melhores, não são adaptáveis ao estilo moderno, enquanto os modernos são absolutamente insuportáveis, pois a poesia, exatamente aquilo do qual os franceses sempre se orgulharam, deteriora a cada dia – e mesmo assim poesia é exatamente a coisa que deve ser boa, aqui, pois de música eles não entendem nada! (1778, carta ao pai)
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Você sabe que sou envolto pela música – ela está comigo o dia todo, amo estudá-la, especular sobre ela, refletir sobre ela. (1778, carta ao pai)
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(...) o que você quer dizer com “sonhos alegres”? Não deixarei de sonhar, pois não existe um mortal neste mundo que não sonhe de vez em quanto. Mas sonhos alegres? – sonhos pacíficos, doces, agradáveis! Isso é exatamente o que eles são – sonhos. Caso eles não fossem sonhos, mas realidades, eles fariam esta minha vida, com sua muita tristeza e pouca alegria, menos intolerável! (1778, carta ao pai)
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Numa ópera, a poesia deve ser a obediente filha da música. (1781, carta ao pai)
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 (...) detesto fazer as pessoas infelizes. (1784, carta ao pai)
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 (...) acostumei-me a esperar o pior em todas as ocasiões. Desde que a morte, quando pensamos nela, é considerada o verdadeiro objetivo da nossa vida, conheci, durante esses últimos anos, esta melhor e mais verdadeira amiga da humanidade de uma tal maneira que sua imagem não reserva nenhum terror para mim, mas sugere, ao contrário, tudo que existe de mais tranquilizador e consolador. (1787, carta ao pai)
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Nunca deito na minha cama sem pensar que – jovem como sou – posso não ver, talvez, um outro dia – e mesmo assim nem uma pessoa que me conheça pode dizer que sou melancólico ou triste! (1787, carta ao pai)
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 (...) estou quase sempre à disposição dos outros, mas cuido muito pouco de mim mesmo. (1787, carta ao Barão Gottfried von Jacquin)
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Não posso descrever meus sentimentos a você – existe um certo tipo de vazio que me fere agudamente – um tipo de desejo, nunca interrompido, porque nunca satisfeito, mas persistindo sempre, não, aumentando dia a dia. (1791, carta a Constanze, sua esposa)
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Não existe nada mais desejável do que conseguir viver com alguma paz de espírito, o que quer dizer que devemos trabalhar diligentemente, e estou muito feliz de fazer exatamente isso. (1791, carta a Constanze, sua esposa)


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