Mário Alves Coutinho lança romance “A Explosão e o Suspiro ou um Corpo que Cai” hoje na Quixote
Estreia.
Crítico de cinema e ensaísta, Mário Alves Coutinho estreia no romance com “A Explosão e o Suspiro”
PUBLICADO EM O TEMPO - 12/03/16 - 03h00
Daniel Oliveira
Mário Alves Coutinho começou a escrever o que viria a ser o romance “A
Explosão e o Suspiro ou um Corpo que Cai” duas vezes, para desistir logo
em seguida. A autocrítica era alta porque o que ele queria fazer não
era simples. “Assim como ‘Ulisses’ é uma tentativa de releitura da
‘Odisseia’, meu romance, modestamente, é uma tentativa de releitura do
‘Édipo Rei’. E enquanto eu tentei interpretar ou fugir demais da linha
do original, não fiquei satisfeito”, explica o autor.
Foi só em 2011 que ele encontrou essa essência básica da peça de
Sófocles e escreveu, por um ano, o primeiro tratamento do livro que ele
lança hoje, às 11h, na livraria Quixote. Seriam ainda mais três anos
reescrevendo a história de Eduardo, que conta para a filha Antônia sua
história na guerrilha durante a ditadura, e no exílio no Chile e na
Austrália, ao lado da mãe dela, Iolanda.
Mudanças e transformações, no entanto, não são algo estranho a “A
Explosão e o Suspiro”. O projeto começou como um roteiro, escrito por
Coutinho anos atrás, inspirado na história real de uma mineira que
ingressou na guerrilha junto com os dois filhos. “Eu fantasiei um pouco,
criei um marido esperando por ela, mas já sabia que queria transformar
aquilo em um romance. E foi só quando mudei um pouco o foco da história
que consegui fazer isso”, revela.
E “Édipo Rei” não foi a única referência que o escritor usou nessa
adaptação. Na apresentação de “A Explosão e o Suspiro”, o crítico e
poeta Ronaldo Werneck define a obra como “uma colagem de livros e
referências (...) formada por pensatas que se imbricam como fotogramas a
serem montados num raccord cinematográfico”.
“Se a base do livro é o ‘Édipo Rei’, as citações servem como o coro da
tragédia grega, comentando a ação e conectando o que acontece com a
cultura e a sociedade em volta”, define Coutinho. A obra, não por acaso,
é dedicada ao cineasta Jean-Luc Godard, que o autor pesquisou em seu
doutorado, e que ficou eternizado ao realizar esse mesmo tipo de colagem
de citações e referências no cinema.
“O livro é uma tentativa de fazer no romance o que o Godard faz no
cinema dele”, admite o autor, que já escreveu três livros sobre o
diretor francês. Além dele, “A Explosão e o Suspiro” é dedicado ao
crítico André Bazin, que terá vários de seus ensaios publicados no
Brasil em abril, pela editora Autêntica, com tradução do próprio Mário
Alves Coutinho.
A referência mais clara do romance, no entanto, é explicitada pelo
autor no próprio título. Assim como o clássico filme “Um Corpo que Cai”,
de Alfred Hitchcock, Coutinho admite que seu livro é, de certa forma, a
história de um homem tentando construir, ou reconstruir, uma mulher.
“Se Bazin e Godard me ensinaram como misturar realidade e ficção, o
Hitchcock entra com a capacidade dele de estabelecer climas diferentes
para diferentes momentos de suas obras”, explica.
Para Coutinho, esse grande passeio pelo cinema não faz de “A Explosão e
o Suspiro” menos literário, ou menos romance – pelo contrário. “O
romance não é um gênero fechado, puro. O meu, às vezes, é ensaístico.
Para mim, o romance é uma mistura da literatura com o cinema”, define.
Agenda
O quê. Lançamento “A Explosão e O Suspiro ou um Corpo que Cai” (ed. Outras Grafias, 280 págs., R$ 54)
Quando. Hoje, às 11h
Onde. Livraria Quixote (rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi)
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