quinta-feira, 26 de abril de 2018

Lançamento. "Um corpo que cai, Alfred Hitchcock ou o perverso e o sublime", de Mário Alves Coutinho

Cinema são encontros. Encontros para além de uma sessão. Encontros que podem durar uma vida toda, e com todas as relações perigosas que lhes são intrínsecas. 
E Um corpo que cai (Vertigo), de Alfred Hitchcock, vem proporcionando encontros desde que lançado em 1958. Encontros que já despertaram paixão e repulsa imediatas e tardias. E é sobre seus encontros com este filme, atravessados por outros de outras pessoas, que Mário Alves Coutinho fala neste livro.
Eleito em 2012 o melhor filme de todos os tempos pela Sight & Sound, Um corpo que cai recebe aqui uma leitura concisa e cerrada pelos olhos apurados de quem se encontrou (e ainda se encontra) por toda sua vida com esta obra-prima cinematográfica. Um olhar que só assim permite novos olhares interpretativos, mirando, por exemplo, o “fazer cinema” e o feminino que dela transbordam. 


Bruno D'Abruzzo, editor da Tipografia Musical

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Este livro trata não apenas de um importante filme de Alfred Hitchcock, mas de um dos mais poderosos enigmas do cinema, com uma legião crescente de admiradores, intérpretes e decifradores.
A própria história da recepção crítica de Um corpo que cai (Vertigo) é intrigante. Desde sua estreia em 1958, foi pouco a pouco deixando de ser visto como um extravagante melodrama gótico-policial do diretor inglês e se tornou, aos olhos dos críticos, uma das mais extraordinárias criações cinematográficas de todos os tempos.
A consagração atingiu seu auge em 2012, quando uma enquete internacional feita pela influente revista Sight & Sound o elegeu o melhor filme da história, levando-o a desbancar Cidadão Kane, que há décadas ocupava o primeiro lugar na lista da publicação e de outras similares.
Um corpo que cai, Alfred Hitchcock ou o perverso e o sublime, de Mário Alves Coutinho, é a melhor porta de entrada que os brasileiros poderiam ter a essa obra-prima.
Com sensibilidade e inteligência, o autor – que é crítico de cinema e ensaísta, além de tradutor de William Blake e D.H. Lawrence – conduz os leitores, sequência após sequência, pelos caminhos labirínticos de Vertigo, revelando paulatinamente toda a sua riqueza estética, narrativa e temática.
A abundância de questões suscitadas pelo filme transborda para além do cinema, resvalando sobre tópicos centrais da psicanálise, da filosofia, da literatura, da teoria dos gêneros e do estudo dos mitos.
O autor caminha por todos esses terrenos com segurança, leveza e ritmo, evocando um portentoso elenco de pensadores, de Freud a Derrida, de Bazin a Žižek, que são como guias no trajeto. O ensaio jamais se fecha em uma interpretação, multiplicando as leituras e convidando o leitor a se tornar, ele próprio, um participante ativo da decriptação do filme.
Coutinho faz tudo isso sem nunca esquecer a matéria principal: a própria linguagem cinematográfica e o seu impacto no imaginário, na sensibilidade e na inteligência. Cinéfilo culto e curioso, ele deseja tanto decifrar os segredos de sua paixão por um filme, compartilhada por inúmeros espectadores, como entender a própria potência do cinema, que pelas mãos de Hitchcock, em Um corpo que cai, alcançou uma força máxima de expressão.

Alcino Leite Neto é crítico de cinema, jornalista e editor



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